Solidariedade
Uma Páscoa recheada de dignidade
Projeto existe desde 2018 e aceita doações de qualquer tipo de alimento
Carlos Queiroz -
"A gente faz isso para oferecer o mínimo de dignidade para essas pessoas." É assim que os voluntários do projeto "Quem tem fome, tem dor", fundado pelo Kilombo Urbano Ocupação Canto de Conexão, resumem os domingos dedicados a oferecer uma alimentação saudável e nutritiva para quem não tem. E, na Páscoa, não poderia ser diferente: neste domingo (17) o grupo apostou num almoço festivo, com peixe no prato principal e chocolate para a sobremesa. E, assim, cerca de cem pessoas saciaram a fome com a certeza que receberam, também, um gesto de carinho.
As panelas ficam por conta das chefs Ana Heidel e Cris Theiss. De acordo com elas, as pessoas não vão até lá em busca apenas de um prato de comida, mas sim de um momento de afeto. "A gente sai daqui com o coração quente", dizem. Para celebrar a Páscoa e fazer com que todos pudessem ter uma boa memória afetiva em relação à data, a dupla pensou em um menu especial, tanto para os adultos como para as crianças. Porém, para isso, uma rede de apoio precisou se formar. "Ganhamos um botijão de gás, unimos os utensílios que já tínhamos e que recebemos e arrecadamos dinheiro para comprar o restante", conta Ana.
O projeto foi fundado em 2018 pelos ocupantes do Kilombo e desde o último mês passou a contar com o auxílio de novos ajudantes, entre eles Ana e Cris. Mas mesmo com pouco tempo de trabalho, as gurias já podem contar com uma série de voluntários, desde os que auxiliam na cozinha até quem passa por lá para pegar algumas viandas e distribuir. Esse é o caso do estudante de Filosofia da UFPel, Tiago Machado. Todo domingo, de bicicleta, ele busca cerca de dez refeições e as distribui nas redondezas. "Dificilmente eu cruzo com a mesma pessoa, geralmente são rostos diferentes e quando chego na Bento já não tenho mais nada na bicicleta", fala o jovem, que soube do projeto por conhecer os ocupantes da casa.
Desde que a última cozinheira voluntária precisou se afastar por problemas de saúde, os fundadores do projeto começaram a doar os utensílios que recebiam em forma de cesta básica, porém, perceberam que para quem vive em situação de rua e para quem não tem condições de comprar um botijão a medida não era eficiente. "Eles estavam sentindo falta do alimento pronto e quentinho." Com a chegada dos novos voluntários, a missão vai além de cozinhar, mas de pensar num cardápio que garanta a segurança alimentar de quem vai acessar, conseguindo adaptar e otimizar as doações. "E estamos começando a pensar em um projeto noturno, pelo menos nas noites mais frias", complementa Ana.
Quem tem fome, tem dor
Ângelo Mendes tem 39 anos e há cerca de seis meses garante o almoço de domingo no Kilombo. Ele mora sozinho nas Doquinhas e sem esse auxílio não conseguiria se alimentar. "Com a fome não se brinca. Se não tivesse hoje eu ia precisar pedir na porta das vizinhas", conta, enquanto também garante a marmita da janta.
Numa situação parecida está Jeferson André Fernandes, 50. Há um ano ele busca a refeição para ele e para a mãe, de 64 anos, que sofre com algumas limitações físicas por consequência de um AVC. "Uns vizinhos nos avisaram sobre a entrega e desde então venho aqui buscar para nós." Quem tiver interesse em contribuir com o projeto pode deixar qualquer tipo de artigo que seja necessário para a realização de uma refeição na rua Benjamin Constant 1327.
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